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O papel da Academia Brasileira de Letras no reconhecimento de novas palavras

A língua portuguesa tem cerca de 370 mil palavras e, a todo o tempo, novos termos entram para nossa comunicação. Mas, afinal, o que é uma palavra? É a menor unidade da nossa fala ou escrita que carrega sons e imagens, letras. Cada uma é dotada de um ruído peculiar e único, que, somado mutuamente, gera um vocábulo que expressa um sinal, um sentido; a palavra, que vai pertencer a uma classe gramatical que pode ser verbo, adjetivo, substantivo, pronome, advérbio, etc., ou seja, a língua que falamos é como um corpo vivo. Ela se “move” e entra nas nossas conversas e textos, muitas vezes de maneira espontânea e despretensiosa, mas, a partir de uma análise minuciosa, pode se tornar oficial.  

  Constantemente estão em estudo novas palavras para serem incluídas no nosso vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Essas expressões já circulam de maneira informal entre nossas conversas, já redigimos, porém, ainda não foram reconhecidas como oficiais e corretas.

  Aqui no Brasil, a Academia Brasileira de Letras (ABL) é a instituição responsável por analisar, estudar, observar, reconhecer e incluir uma palavra oficialmente na nossa língua portuguesa, no nosso vocabulário. Porém, antes desse processo, um verbete já “pulsa” em nossa linguagem e comunicação.  

  Após essa análise e estudo feito pela ABL, esses novos vocábulos entram para o nosso vocabulário e pronto! Estão devidamente adotadas. 

Para conhecer esse processo, Vila Morena conversou com o filólogo, linguista e imortal Ricardo Cavalieri, que ocupa a cadeira de número 8 na ABL, onde é diretor da lexicografia. 

Vila Morena – Como se dá o processo de identificar um vocábulo e incluí-lo oficialmente na nossa língua?  

Ricardo Cavalieri – “Convém, primeiramente, esclarecer que o Volp não inclui uma palavra na língua, já que esse é um fato que decorre naturalmente da atividade linguística do falante. O Volp apenas registra uma palavra como item lexical que logrou consolidar-se no vocabulário comum dos falantes do português do Brasil, distinguindo-a de outras que tiveram vida passageira e acabaram por cair no esquecimento. O processo de registro de uma nova palavra passa por critérios lexicológicos bem definidos, tais como sua ocorrência em fontes idôneas, tais como livros, revistas, jornais, teses, dissertações, monografias, textos institucionais, artigos científicos etc., seja em versão impressa ou eletrônica. Também se verifica a frequência de ocorrência, de tal sorte que se possa avaliar o grau de sua circulação na língua exemplar. Outros fatores, como a diversidade de fontes textuais e o caráter de universalidade do uso, são levados em conta.”

Vila Morena – Atualmente existem palavras em processo de análise para reconhecimento oficial??? Quais, por exemplo?

Ricardo Cavalieri – “O site da ABL, na seção Nossa língua, apresenta um item denominado Observatório lexical, em que são relacionados itens lexicais que estão sob análise da Comissão de Lexicologia e Lexicografia. Basta ingressar nesse item do site e lá se encontrarão várias palavras que possivelmente serão incluídas no Volp. O Observatório evidentemente não garante o registro da palavra, mas dá uma ideia dos neologismos que a ABL vem estudando no intuito de possivelmente incluí-los entre as palavras já consolidadas no léxico do português do Brasil. Exemplifique-se com disania, marmitório, microssono, pejotização e outras.”  

Vila Morena – Uma palavra leva quanto tempo, em média, para se tornar parte da nossa linguagem, do nosso dicionário?

Ricardo Cavalieri – “Não há um tempo de uso determinado no corpo da sociedade, mas decerto que palavras de vida ainda breve devem aguardar mais tempo a fim de que se assegure que não se trata de um modismo. Em princípio, faz-se necessário que a análise das fontes de textos escritos idôneos ateste o uso da palavra por algumas décadas e que semelhante uso ainda se verifique nos textos atuais.” 

Vila Morena – Como a ABL trabalha a inclusão de um vocábulo no nosso português, há uma banca que estuda as palavras. São observadas a partir de quê?

Ricardo Cavalieri – “A ABL dispõe de uma Comissão de Lexicologia e Lexicografia, constituída de cinco acadêmicos sob presidência do Acadêmico Arnaldo Niskier, assessorada por uma equipe de lexicógrafos profissionais sob chefia da lexicógrafa Shahira Mahmud. A equipe de lexicógrafos é responsável pela análise e emissão de parecer sobre possíveis inclusões tanto no Volp quanto no Dicionário da Língua Portuguesa, ora em processo de elaboração. Periodicamente, a Comissão avalia as palavras que já têm perfil adequado para registro a fim de que se decida definitivamente por sua eventual inclusão no Vocabulário e no Dicionário.”

Vila Morena – Explique um pouco sobre a dinâmica do Volp?

Ricardo Cavalieri – “O Volp é uma publicação periódica da ABL que registra a grafia oficial de todas as palavras presentes no léxico comum do português do Brasil. Sua idealização surgiu com a sequência de acordos ortográficos ao longo do século passado, que impuseram a necessidade de que as bases das reformas que se sucederam no tocante à grafia das palavras se consolidassem em uma publicação oficial. A ABL foi investida na tarefa de edição e publicação do Volp por força do Acordo Ortográfico de 1990. Este é um tratado internacional assinado por vários países de língua portuguesa para unificar a ortografia. Embora bem antes dessa data já viesse cumprindo a tarefa de relacionar as palavras do português do Brasil em sua grafia oficial. Hoje, o Volp já não é publicado em versão impressa, apenas na versão eletrônica, disponível tanto no site da ABL quanto no aplicativo Volp-ABL, disponível gratuitamente para aparelhos celulares Android e IOS.”

Nem todas as palavras que ouvimos ou verbalizamos são oficializadas

Palavras que surgem a partir de uma certa “moda” não entrarão necessariamente para a língua oficial. Elas podem estar em voga por serem criadas, por exemplo, em novelas ou mesmo memes e acabam se desgastando e desaparecem.

     Biscoiteiro, por exemplo, é um exemplo de modismo, já existe oficialmente e significa quem fabrica biscoito. Porém, na internet, essa expressão carrega um novo significado. Ela é utilizada para dizer que alguém está querendo aparecer, chamar a atenção, receber elogios. Covid-19 é um exemplo bem popular. Por permanecer em evidência durante toda a pandemia, foi rapidamente absolvida e incluída no nosso vocabulário. 

Outras estão em processo de observação e estudo, como:

  • Tokenização (s.m.) – Na área de segurança, tokenizar é substituir um dado sensível (como um número de cartão de crédito) por um código aleatório (o token), que não tem valor fora do sistema que o criou.
  • Retrofitagem (s.f.) – processo de modernização de edifícios antigos, com a inserção de tecnologias e melhorias sem alterar a estrutura original.
  • Microssono (s.m.) – brevíssimo período de sono, geralmente de poucos segundos, que ocorre de forma involuntária.
  • Reclínio (s.m.) – ação ou estado de inclinar-se, dobrar-se, afastar-se de uma posição perpendicular ou deitar-se.
  • Cordonel (s.m.) – lona têxtil revestida com borracha crua, utilizada principalmente no conserto e na vulcanização de pneus.
  • Microssono (s.m.) – brevíssimo período de sono, geralmente de poucos segundos, que ocorre de forma involuntária.    

A palavra não é política nem carrega controle social

  Existem critérios levados em conta minuciosamente pela comissão de lexicógrafos da ABL para inserir um novo termo ao nosso vocabulário, que são eles: 

Adaptação ortográfica, no caso de estrangeirismos; ocorrência em textos escritos; uso estável e uniforme; presença em pelo menos três gêneros textuais distintos.

  Em alguns casos de estrangeirismos, por exemplo, quando não são termos “aportuguesados” como “deletar”, eles costumam ser registrados em um vocabulário específico do Volp. Como exemplo, podemos citar “bullying”.  

Esse processo é constante porque a nossa língua é “viva”, pulsa e sofre influência da própria sociedade em termos de pronunciar, de fazê-la presente em nossos textos e conversas. Há também palavras que caem em desuso, como foi, por exemplo, o caso de vitrola, um aparelho que tocava disco de vinil, tão raro atualmente; tabefe (soco); quiproquó (confusão); dentifrício (pasta de dente); chofer (motorista), etc.

  O fato é que uma palavra não entra para nosso vocabulário ou mesmo cai em desuso por vontade de grupos sociais. Esse movimento vivo expressivo é espontâneo e transcende qualquer tipo de controle político ou social. Se comunicar é a forma mais antiga dos seres vivos se relacionarem. Os humanos, desde os Homo sapiens, já carregavam essa capacidade por meio de gestos, sinais, sons e grunhidos, que foram evoluindo para a emissão de sons e a fala articulada, chegando, posteriormente, à linguagem com estrutura semelhante à moderna.   

  Porém, desde sempre tudo e toda essa transformação foi espontânea, sem a interferência direta ou autoritária de determinado setor social, político e econômico. Há palavras censuradas, mas aí é outro tema de matéria, é sobre controle social, que não é a proposta dessa reportagem.      

Helio Tinoco

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