Pepe escolheu viver muito antes de o diagnóstico do câncer o avisar da morte. Não lamentou, não expôs as vísceras da dor, somente viveu. Transitou pela vida simples que escolheu, pelos perdões que concedeu, pelas reflexões que provocou. Nesses dias passados em flash, é impossível concordar com a frase que o definia como “o presidente mais pobre do mundo”. De pobre, Pepe nada tinha.
Diante de tantas homenagens, lembranças, textos sem fim, o Vila Morena escolheu marcar a passagem de Pepe a partir das próprias palavras do presidente uruguaio encontradas no livro “Uma Ovelha Negra no Poder: Confissões e intimidades de Pepe Mujica”, dos autores Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz (2024).
“Sou procurado por jornalistas de todos os lugares porque a questão é que tenho charme.” Não tenho culpa, falo do que sou e vivo como quero. O incrível é que agora isso seja o diferente. Muita gente não consegue acreditar que deem a este velho de merda a atenção que lhe dão em várias partes do mundo. Mas eu não faço nada para isso, salvo viver como quero, esteja onde estiver. Nem pobre nem nada. Pobres são os que vivem atrás da grana, que vivem presos”.
“Aqueles que se acham derrotados antes de começar a lutar me deixam doente.” Você não luta por uma vitória, mas tem de acreditar que vai triunfar, e vai avançando e dando conteúdo à vida. Da mesma forma, você não pode triunfar, porque como vai triunfar diante de um fenômeno tão complexo como a vida? Deve viver com paixão e mais além das necessidades materiais. Viver com vontade e se comprometer, o que não quer dizer que deve aceitar tudo. Posso lhes garantir que me divirto loucamente.”
“Ninguém gosta da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar.”
“E, por favor, não vivam com medo da morte. Aceite como os bichos do mato. O mundo vai continuar girando e nada vai acontecer. Não vai ficar com todo esse medo à toa”, disse. “É preciso ser mais primitivo.”