IBGE mostra que homossexuais casam mais
“Não é bom que o homem esteja sozinho, farei para ele uma auxiliadora que lhe seja idônea”. Gênesis 2,18. Essa passagem bíblica tem sido um dos argumentos, principalmente por parte de conservadores cristãos homofóbicos, para repudiar relacionamentos homoafetivos. Sabendo que a Bíblia é um livro aberto às mais diversas interpretações (a prova disso está em certas correntes evangélicas), no caso dessa passagem não seria diferente. Ter uma companhia pode ser o fato de não estar sozinho, o ato de reprodução é outro tema, até porque há homens e mulheres heterossexuais que não têm biologicamente fertilidade para a reprodução, mas em nada deixam de carregar a capacidade de serem pai e mãe.
Abro essa conversa para chegar a um dos pontos mais relevantes ainda na reflexão sobre a eleição do Papa Leão XIV. Todo conclave é carregado de expectativas mundo afora por certo fetiche de boa parte da humanidade em descobrir a linha ideológica cristã que o novo pontífice irá trazer. Pelo que parece, Leão XIV não tem a missão eclesiástica de: “Francisco, vai e reconstrói minha igreja”. O novo Santo Padre se apresenta e dá sinais de que não será tão pop quanto João Paulo II.
Já no primeiro discurso, em 16 de maio de 2025, o líder da igreja católica deixou claro ao que veio e expressou que o casamento entre homem e mulher é o fundamento da sociedade. “É responsabilidade dos governantes trabalhar para construir sociedades civis harmoniosas e pacíficas. Isso pode ser alcançado, sobretudo, investindo na família, fundada na união estável entre um homem e uma mulher. Essa fala vem reafirmar o ensinamento tradicional da Igreja.
Puxando pela memória, é possível encontrar no passado recente, num certo ano de 2012, quando ainda era cardeal, Robert Prevost criticou durante um discurso a “compaixão por escolhas de estilo de vida anticristãos”.
Dito isto, vamos ao cerne dessa conversa. Contrariando, sem heresia, o posicionamento do novo Papa, a sociedade que vibra em incessante transformação mostra um movimento diferenciado ao discurso tanto do Papa Leão XIV quanto os discursos bíblicos dos LGBTfóbicos, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelava que o casamento entre pessoas do mesmo sexo atingiu 11,2 mil celebrações em 2023, alta de 1,6% ante 2022 e recorde da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2013. Os números fazem parte da pesquisa “Estatísticas do Registro Civil 2023”, divulgada em 16 de maio de 2025.
Existem dados interessantes nessa pesquisa que estão no fato de ter ocorrido uma redução entre casamentos realizados por casais heterossexuais (3,7%), como nos homossexuais feitos entre homens (5,9%). Como sempre, estando na vanguarda, o posicionamento feminino, o matrimônio por mulheres homossexuais foi o único que apresentou crescimento (4,9%).
De maneira bastante interessante, o registro significativo de “casamento gay” em número considerável não foi registrado nos estados da União, que costumam estar promovendo movimentos bastante atuantes pela causa LGBTQIA+. Segundo o levantamento do IBGE apresentado em 19 de maio de 2025, o estado do Piauí registrou no ano de 2023 um recorde de casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Entre altas e baixas, não nos cabe perceber o motivo para essa situação, mas nos é possível celebrar que, mesmo diante de uma sociedade dividida entre fé e direitos civis, a comunidade LGBTQIA+ não freia seus sentimentos, suas emoções. Ela vem rompendo cada vez mais as barreiras dos discursos cristãos homofóbicos, principalmente, e vivendo o matrimônio sem medo de ser feliz, mas buscando exatamente ela, a felicidade e o direito de ter uma ou um auxiliador(a) que lhe seja idônea(o).
Enquanto os pares românticos celebram a união sob uma “chuva de arroz”, nós brindamos à vida flamulando bandeiras que marcam a presença digna da comunidade, ainda que à revelia da vontade cristã e social.
Ao santo Papa, é preciso perceber a forte mensagem deixada em 1205 a Francisco, enquanto ele rezava na Igreja de São Damião, fora dos muros de Assis, quando de repente ouviu uma voz que ecoava de um crucifixo estendido atrás do altar. A voz lhe falou três vezes seguidas: “Francisco, vai e reconstrói a minha igreja, casa que, como vês, está ruindo”. Apesar de não ser franciscano como o Papa Francisco, essa metáfora pode ser levada em consideração pelo novo sumo pontífice, para que prossiga na missão, vá e salve a igreja.