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Mulheres na Ciência em MS: invisibilidade, desafios e resistência no meio acadêmico

Elas são protagonistas na ciência sul-mato-grossense, produzem conhecimento e impactam diretamente a sociedade. Ainda assim, muitas vezes, permanecem invisíveis. É essa realidade que a professora e pesquisadora Marinete Rodrigues, da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul busca transformar com o projeto de pesquisa sobre a atuação das mulheres na ciência no Estado.

Marinete é doutora em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e iniciou a trajetória universitária aos 42 anos, quebrando barreiras não apenas pessoais, mas também estruturais, driblando, até, o idadismo.

Desde então, tem dedicado a vida acadêmica a estudar gênero, ciência e a presença feminina na produção de conhecimento.

Seu projeto atual, financiado pelo edital 10/2022 da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de MS), é uma radiografia detalhada da presença e atuação das mulheres pesquisadoras em Mato Grosso do Sul.

Invisibilidade, protagonismo e insurgência na pesquisa sobre a mulher em MS

“A primeira barreira que as mulheres enfrentam é a invisibilidade”, explica Marinete. E é justamente contra isso que seu projeto se insurge. Ao mapear pesquisadoras da UEMS, UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), UFGD (Universidade da Grande Dourados) e UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), ela analisou 1.382 currículos Lattes de mulheres. Os dados revelam que elas já são maioria em algumas instituições: na UFMS, por exemplo, são 752 pesquisadoras contra 693 homens. Já na UEMS, há praticamente um equilíbrio: 354 mulheres e 351 homens.
Marinete ressalta, contudo, que números brutos não contam toda a história. “Mesmo onde são maioria, as mulheres ainda publicam menos, coordenam menos projetos e enfrentam mais dificuldades para alcançar posições de liderança.”
Para além da análise estatística, o projeto inclui rodas de conversa, entrevistas e eventos acadêmicos que dão voz a essas mulheres. “Elas não são apenas dados. São cientistas que atuam em áreas essenciais como o Pantanal, a saúde pública e as ciências humanas. E precisam ser vistas.”

Onde estão e o que pesquisam as cientistas em Mato Grosso do Sul?

Segundo a pesquisadora, as mulheres predominam nas áreas das humanidades, como história, ciências sociais e pedagogia, e também em áreas da saúde, como enfermagem, psicologia, farmácia e pediatria. Na biotecnologia, há também forte presença feminina. Em regiões como Corumbá e Nova Andradina, há projetos inovadores liderados por pesquisadoras — como iniciativas com meninas cientistas e pesquisas voltadas à preservação do Pantanal.
Já nas áreas tradicionalmente dominadas por homens — como engenharias e ciências agrárias — o cenário ainda é desigual. “Mesmo em concursos para professores universitários, há muito mais homens aprovados. Muitas vezes, o currículo deles é mais robusto, porque elas enfrentam mais obstáculos para produzir ciência de forma contínua.”

O impacto da maternidade na carreira científica

Uma das barreiras mais evidentes para as pesquisadoras é a maternidade. “A mulher engravida, continua trabalhando durante a gestação, mas depois do nascimento do bebê, a produção científica costuma ser interrompida por cerca de dois anos”, explica Marinete. Esse hiato compromete a continuidade de projetos, a participação em editais e a publicação de artigos, o que pesa diretamente na avaliação acadêmica.
“Quando ela volta, precisa quase começar do zero. Enquanto isso, o colega homem seguiu publicando, coordenando projetos, orientando alunos. É um desestímulo enorme”, afirma.
A cientista defende políticas públicas específicas para apoiar pesquisadoras-mães, citando modelos como os das universidades norte-americanas, que oferecem creches dentro dos campi. “Aqui, precisamos avançar nesse sentido. A ciência exige continuidade, e não podemos mais ignorar isso.”

Autonomia, liderança e enfrentamento do preconceito para fazer ciência em MS

Outro desafio apontado por Marinete é a autonomia da mulher dentro das relações familiares, afetivas e institucionais. “Muitas vezes, a mulher precisa da autorização do pai, do marido ou do chefe para participar de um evento, fazer uma viagem, assumir um projeto. Isso precisa mudar.”
Ela também destaca a baixa presença feminina na liderança de laboratórios e projetos científicos. “As mulheres precisam ocupar esses espaços. Para isso, entretanto, precisam de redes de apoio, inclusive de colegas homens comprometidos com a equidade.”
Por fim, a pesquisadora enfatiza a necessidade de eliminar estereótipos e preconceitos arraigados. “Essas barreiras vêm de um processo histórico, mas precisamos ir além do cotidiano. A ciência é movimento, é transformação. E sem a participação plena das mulheres, a sociedade inteira perde.”

De Assis à USP: a trajetória de resistência de Marinete

A história de Marinete é, por si só, um símbolo da luta feminina na academia. Ela entrou na universidade aos 42 anos, cursou história na UFMS e foi aprovada no mestrado da UNESP (Universidade Estadual de São Paulo), na cidade de Assis. Lá, enfrentou aquele que seria o primeiro episódio de discriminação: mesmo tendo sido aprovada nas etapas do doutorado, foi preterida por um orientador que escolheu dois homens. “Foi um choque, mas não desisti.”
Determinada, foi aprovada na USP e completou o doutorado com louvor. Depois, fez pós-doutorado na Universidade Nacional de Rosario, na Argentina, em desafio até mesmo à pandemia da Covid-19. Desde 2015, coordena o mestrado profissional em Ensino de História da UEMS ,e agora, lidera a implantação do doutorado profissional.

Pesquisadora lidera ciclos de debates em universidades de MS

A pesquisadora organiza ciclos de debates em diversas cidades do Estado, como Corumbá, Nova Andradina e Campo Grande. Os encontros reúnem mulheres cientistas de diferentes áreas para apresentarem seus projetos à sociedade.
“O conhecimento tem que sair dos muros da universidade. Ciência precisa ter impacto social”, afirma. Para ela, educação e ciência são ferramentas fundamentais para transformar realidades.

Marinete conclui com um apelo: “Não é uma guerra entre homens e mulheres. É uma luta por equidade. A ciência brasileira só vai avançar se permitir que as mulheres avancem também.”
E em Mato Grosso do Sul, essa luta está cada vez mais visível — graças ao trabalho de pesquisadoras como Marinete e tantas outras que insistem em ocupar seu espaço no universo específico.

Renata Volpe

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